Ruby: uma ótima linguagem para shell scripts!
Introdução
Ruby é tão associada com seu framework mais famoso, Rails, que muitas pessoas esquecem o quanto incrível essa linguagem é. Quero dizer, eu conheço muita gente que diz “eu não gosto de Ruby” e quando eu pergunto o porquê, eles dizem alguma coisa sobre o Rails. Pessoalmente, considero Ruby uma das minhas linguagens de programação preferidas, e a última vez que eu encostei em algum código de Rails foi há 7 anos…
Então, se eu não uso mais Rails, o que é que eu faço com Ruby? Bem, Ruby é uma linguagem bem rica e completa, talvez até mais que sua parente mais famosa, Python (infelizmente, não posso dizer a mesma coisa sobre seu ecossistema…). E uma das coisas que eu considero que Ruby é melhor que Python é para escrever shell scripts.
Isso é, na maior parte dos casos Bash é suficiente pra mim, mas se o script começa a ficar complexo, então eu vou para Ruby. Aqui vou mostrar as principais features da linguagem para esse caso de uso.
Objetivos
-
Mostrar features de Ruby que possam ser úteis para escrever shell scripts;
-
Comparar Ruby com Bash e Python;
Não-objetivos
- Substituir completamente scripts Bash por scripts Ruby.
Feature 1: chamar comandos externos
A primeira coisa que você espera de uma linguagem para escrever shell scripts é
chamar comandos externos. Em Ruby, você pode fazer isso usando backticks (`
):
`ls`
E é isso! Você não precisa de system
, popen
ou similares, ou importar uma
biblioteca. E se você atribuir isso a uma variável, você terá a saída do
comando:
my_date=`date`
Nota: se você quiser usar
system
(ex: se você quer que a saída seja redirecionada para o stdout em vez de uma string) oupopen
(se você quiser ler e escrever dados de ou para um subprocesso), eles também estão disponíveis em Ruby!
Feature 2: status code
Este é bem rápido: em Ruby, a variável $?
contém o status code do último
comando executado. Então, é bem próximo de Bash:
`true`
puts $? # 0
`false`
puts $? # 1
Feature 3: Ruby tem tipos
Ruby não é uma linguagem estaticamente tipada, mas tem tipos. Na verdade, é uma linguagem orientada a objetos e segue estritamente o paradigma de POO (mais que Python, em alguns aspectos até mais do que Java!). Bash, por outro lado, tudo é uma string, e isso leva a vários problemas de segurança…
Então, você pode tirar proveito disso:
total_lines = `wc -l my_file`.to_i # um int contendo o número de linhas de um arquivo
half = total_lines.div 2 # divisão inteira
puts `head -n #{half} my_file` # imprime metade de um arquivo
Feature 4: construções funcionais
Ruby implementa map
, select
(filter), reduce
, flat_map
e outras
operações funcionais como métodos. Então, você pode, por exemplo, aplicar um
map
sobre a saída de um comando:
puts `ls`.lines.map { |name| name.strip.length } # imprime os comprimentos dos nomes de arquivos.
Feature 5: casamento de regex
Regex é um tipo em Ruby, e as operações usando regex são parte da
linguagem. Olhe este exemplo, em que a gente obtêm o nome da branch atual do Git
chamando git branch
:
current_branch_regex = /^\* (\S+)/
output_lines = `git branch`.lines
output_lines.each do |line|
if line =~ current_branch_regex # casa a string com a regex
puts $1 # imprime o primeiro grupo
end
end
Nota para amantes de Git: eu sei que eu podia ter feito isso usando
git branch --show current
, mas esse foi o primeiro exemplo que veio na minha cabeça para demonstrar o uso de regex…
Feature 6: threads fáceis
Se você quer trabalhar com várias threads, Ruby é talvez a linguagem mais fácil de fazer isso. Veja:
thread = Thread.new do
puts "Estou dentro da thread!"
end
puts "Estou fora da thread!"
thread.join
Então, isso pode ser útil, por exemplo, para baixar vários arquivos ao mesmo tempo:
(1..10).map do |i| # itera de i=1 a i=10, inclusivamente
Thread.new do
`wget http://my_site.com/file_#{i}` # você pode usar variáveis dentro de comandos!
end
end.each { |thread| thread.join } # do/end e chaves servem para a mesma coisa
Feature 7: operações de arquivo e diretório embutidas
Em Ruby, todas as operações de arquivos são métodos da classe File
e todas as
operações de diretório são métodos da classe Dir
, como deveriam ser. Em
Python, por exemplo, se você quer ler um arquivo você usa open
, mas se você
quer apagá-lo você precisa usar os.remove
, e os
tem várias outras coisas
que não são relacionadas a arquivos.
Então, em Ruby:
exists = File.exist? 'My File' # métodos que retornam booleanos são terminados em ?
file_content = File.open('My File').read
File.delete 'My File' # parênteses são opcionais se não há ambiguidade
Conclusão
Espero que depois de ler este pequeno texto você considere usar Ruby como uma substituta para shell scripts complexos. Quero dizer, não espero que você deixe o Bash completamente, mas considere usar Ruby quando as coisas ficarem mais complexas. Claro que você poderia fazer isso tudo em Python, Perl, até JS, mas, como minha principal escolha eu acredito que Ruby é a escolha mais fácil e completa para isso!
Se você encontrou alguma coisa errada, ou se você tem alguma sugestão, por favor me diga aqui.
Update
Isto ficou em primeiro no Hacker News! Não apenas isso, mas começou discussões bem interessante nos comentários. Obrigado a todos!
Update #2
De alguma forma isto chegou no Matz, o criador de Ruby! E isso foi twitado por ele! Eu… não acredito!
Link: Ruby: a great language for shell scripts! - Lucas Seiki Oshiro : https://t.co/lestntomSR
— Yukihiro Matz (@yukihiro_matz) June 25, 2024
https://t.co/lestntomSR